Como podemos
estabelecer se somos bons ou ruins? Como podemos entender o que se passa na
cabeça dos outros se nem sabemos ao certo o que se passa na nossa? Não é certo
estabelecer bem ou mal, vilão e herói, na vida real, e numa boa história também
não. Se na época de Shakespeare já se sabia disso, é triste constatar que as
pessoas ainda estão presas ao estereótipo do herói e do vilão.
E de repente era dia! Damian que tinha
se deitado a pouco, resolveu levantar-se pra dar uma conferida na escola, saiu
em disparada e chegou mais ou menos na quarta aula. Damian notou alguns olhares
meio tortos pra ele, mas não ligou muito, foi até a sua classe, entrou,
sentou-se numa cadeira no fundo e ficou lá esperando o tempo passar. Aos poucos
ele foi percebendo que havia um certo clima ruim no ar, as pessoas olhavam pra
ele e ficavam cochichando. Quando ele entrou na sala ninguém disse nada, e nem falou
nada com ele, até mesmo quando ele fazia algum comentário esquisito. Damian
começou a se irritar com aquilo, ele era totalmente ignorado. Ele saiu da sala
e ficou na calçada observando como sempre, mas ninguém vinha falar com ele, e
as pessoas que passavam, ficavam com a cara fechada, algumas até ficavam
encarando, e ele encarava de volta, ué! Alguns minutos depois saíram Frederico
e Gabriela juntos, eles passaram em frente ao Damian, e claro, não falaram com
ele. Damian não era nenhum imbecil, ele sabia muito bem do que estava
acontecendo. Ele cansou-se daquilo tudo e foi pra casa, matar aquele sono, e
encontrar um pouco de paz, mas paz ele não encontrou. Deparou-se com os seus
pais falando com os pais da Gabriela e do Frederico. Nossa! Pensou ele, como
essas pessoas são dramáticas, até parece que eu peguei a menina a força, e ele
ficava meditando enquanto recebia as broncas dos seus pais, e dos pais de
Gabriela ele não deu muita atenção, esperou até a sua mãe mandá-lo para o
“terrível castigo” de ficar no quarto. Ele subiu, e preferiu não pensar em
nada, foi dormir.
Quando acordou devia ser ai umas quatro
horas da tarde. Damian levantou-se ainda com dor de cabeça, sentou-se, e ficou
pensando no que fazer pra tornar a situação mais amena, mas só conseguia pensar
em como as pessoas eram dramáticas e apegadas a tradições imbecis. Pensou,
pensou e concluiu que a melhor ação seria ir contra a lógica dele e ir pedir
desculpas a “pobre dama ferida” Desceu do seu quarto, e saiu. Como sempre os
castigos cruéis da sua mãe só duravam o tempo dela dar uma espiada no quarto e
ver ele preso lá, ela logo se compadecia e deixava pra lá. Damian foi até a
casa da tal Gabriela, ele jogou uma pedrinha na janela do quarto dela, isso
claro depois de pular o muro e “dar um jeito” no cachorro dela. Do quarto que
ele julgava ser dela, saíram os pais dela, e ai já sabe né? Desceram e foi a
maior resenha, ele de alguma maneira conseguiu convence-los que ele queria só
se desculpar com ela. Eles a chamaram, e os dois ficaram no quintal, ela
parecia mais triste do que enraivada com ele, então começou a tentar bolar uma
desculpa. Olha Gabriela, disse ele, enquanto sentava num daqueles balanços de
crianças que tinha no quintal da casa dela. Eu não sou muito bom em lidar com
os sentimentos das pessoas, mas vi que realmente eu pisei na bola, foi mal, eu
até tentaria dizer alguma coisa a mais, mas é isso não é? Acho que eu acabei
passando pra você uma imagem de um alguém que não sou. Gabriela olhava pra ele
com um sorriso de admiração e pena no rosto e começou a dizer. Eu não me
enganei sobre você, sei muito bem quem você é, esse seu jeitão “Tô nem aí” e eu
gosto disso, só não gostei da maneira como você me tratou depois, mas acho que
eu esperei que você mudasse, e o Frederico foi tão fofo comigo, mas agora a
gente precisa consertar as coisas, eu não sinto nada por ele. Os dois entraram
em casa e Gabriela explicou pros seus pais que o Damian não tinha enganado ela
coisa nenhuma, na verdade ele tinha se enganado. É, basicamente não mudou nada,
pensou Damian, olhando para o rosto do pai da Gabriela que parecia um Bulldog
pronto para atacar, mas na cabecinha da moça ela tinha resolvido todo o
problema. Então saiu contente, apesar de tudo, ele tinha se resolvido com a
garota, e pensava ter passado a pior parte do temporal. O que ele não imaginava
era que ela estava acabando com o Frederico e dizendo pro garoto que era
apaixonada era pelo Damian.
Damian foi pra casa e comeu alguma
coisa, sentou-se no computador, abriu lá suas redes sociais e assustou-se com o
convite da Gabriela pra se encontrar com ele a beira do lago da cidade, ele não
entendeu nada, pois tinha falado com ela há algumas horas só. Mas tudo bem, pra
evitar mais contenda, pensou, é melhor ir lá. Lá pelas oito da noite Damian
chega ao lago, estava muito frio, e ele encontrou a garota lá na beira, o
esperando. Ele foi até lá, ela o abraçou fortemente, e começou a falar, ainda
com ele em seus braços.
- Damian, eu te amo! Não importa que você não sinta
nada por mim, não importa, eu vou fazer você gostar de mim também...
Ela estava
lá falando isso quando um carro parou também a beira do lago, e ficou com os
faróis ligados. Damian perguntou quem era, mas ninguém respondeu, no escuro e
com os faróis ligados em direção aos seu olhos, ficava difícil ver que carro
era. Mas nem nós somos retardados, nem o Damian é, era claro que era o
Frederico! Ele desceu do carro, e caminhou até eles dois. Gabriela soltou
Damian e preguntou a Frederico o que ele estava fazendo ali. Frederico não
parecia está muito normal, seus olhos estavam vermelhos, não sei se de chorar,
ou de consumir algo, mas estava visivelmente embriagado. Ele fungou, passou as
mãos trêmulas nos olhos e começou a falar olhando fixamente pro Damian.
– Você
sabe o tanto que eu amo essa garota? Você sabe quanto tempo eu gastei da minha
vida me aproximando dela? Eu me dediquei a conquistar o coração dela, e nunca
pensei que você, você! Fosse ser o cara que iria me impedir de ficar com ela,
eu até ia lá, na sua casa te pedir desculpas, afinal você não sabia que eu
gostava dela, mas e agora? Eu estava feliz cara! Eu queria casar com ela! Mas
você como sempre tem que acabar com tudo, tudo em que você toca vira merda, e
eu não sei por que eu não achei que isso ia acontecer com a minha vida também.
Agora essa vadia, que só sabe sofrer, me liga dizendo que nunca sentiu nada por
mim, e é apaixonada por você. Você!!
Frederico
passa a mão freneticamente no rosto, e fica dando voltas em torno de si mesmo,
aponta pra Damian, e continua.
– Eu pensei bastante sobre a decisão que eu vou
tomar hoje, pensei mesmo, e sei das consequências, mas se eu não fizer nada
agora, eu sei que você vai causar mais destruições ainda, então Damian, diga
adeus.
Ele puxou um revolver, e apontou pra Damian, que permanecia calado, com
um olhar de assustado. Gabriela começou a gritar pra ele não fazer isso, mas
ele não a escutava, olhava fixamente para Damian, nesse momento Gabriela saiu
correndo. Damian olhou de lado, e perguntou.
– Foi por isso que você se
apaixonou?
Frederico, que estava explodindo de raiva, gritou para ele ficar calado.
Ele destravou a arma e estava pronto para matar Damian ali mesmo, quando foi
golpeado na cabeça por Gabriela, que segurava uma daquelas pedras que tinham a
beira do lago. No susto Frederico apertou o gatilho, mas para a sorte de
Damian, a bala atingiu apenas o seu ombro. Como nos sabemos que um tiro doí pra
caramba, não importa adrenalina ou qualquer outra viadagem, Damian caiu no chão
sentindo uma dor muito forte, que iria só aumentar. Gabriela pegou a arma que
estava na mão de Frederico, e foi socorrer Damian. Ele se contorcia no chão, e
ela “ajudava-o bastante” gritando e o abanando. Ela pegou o celular pra ligar
para uma ambulância vir resgatar Damian e o Frederico, mas quando estava
esperando a ligação se completar, Frederico acordou. Ela desligou o celular, e
ficou observando-o apreensivamente. Ele se senta no chão, passa a mão no
ferimento atrás da cabeça e olha para a Gabriela que ainda carrega a arma nas
mãos. Nesse momento, Damian deu mais um grito de dor, Frederico olhou
rapidamente pra ele e correu em sua direção gritando.
– Ah!! Você ainda está
vivo?!?! Eu vou terminar de te matar agora seu fresco, e depois mato essa
vadia!
Gabriela, não sabia o que fazer, Frederico pulou em cima do Damian
enfurecido. Ela se tomou de um pânico, começou a gritar e atirar no Frederico,
atirava sem parar, até que as balas acabaram. Ela ficou ali, em estado de
choque, parada, chorando e ainda apertando o gatilho com força. Ela largou a
arma no chão, Damian pegou a arma e jogou no lago. Ela ficou perto dele, nesse
momento apareceram várias pessoas atraídas pelo barulho todo dos tiros. Eles
correram pra cima do Frederico e de Damian, fazendo bilhares de perguntas, e
logo havia um amontoado de pessoas. Não se sabia se Gabriela demostrava um
pouco de inteligência em ficar calada ante as perguntas, ou estava mesmo muito
abalada com tudo aquilo. Damian, já não aguentava mais a dor, e as pessoas em
volta dele o pegavam nos braços, outras pegavam o Frederico, ouviam-se sirenes
da policia e do corpo de bombeiros, e nesse momento tudo apagou.
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