Num
quarto qualquer de uma casa qualquer, num bairro qualquer em outras coisas
quaisquer... Morava Damian, o qual eu não vou contar-lhes nenhum traço, deixo
por conta das suas mentes a parte do desenho dele, imaginem como quiserem.
Sobre uma cama estava ele, eram já doze horas e nem sinal de vida. Sua mãe
entra no quarto e se depara com o garoto, ou melhor, rapaz. Damian já amargava
o auge dos seus 17 anos, aquela idade em que você ainda não pode fazer o que
quer, mas pode perfeitamente fazer tudo que seus pais querem, permitam-me
inserir isto aqui: “ ¬¬” Obrigado. Voltando a história, lá estava o rapaz,
estirado em cima da cama, só de samba canção, ainda com os fones de ouvido e
com vários livros sobre ele. Como é de costume de uma mãe “de qualidade” fazer,
ela soltou o berro:
– “Damian!!! Hoje é seu primeiro dia de aula menino! Cadê o compromisso? Ano
passado você quase não passava, tive que falar com todos os professores para te
darem uma segunda chance e você faz isso comigo? Com que cara acha que eu vou
pra reunião de pai e mestres?”
Damian
não esboçou reação alguma, é um fato comum: quando se lida com idiotas o silêncio
é sempre a melhor estratégia. - Não estou dizendo que a mãe dele seja idiota,
apenas estou explicando a linha de raciocínio. Damian levantou-se e foi no
banheiro, tomou seu banho, escovou os dentes, quando saiu do banheiro deu de
cara com sua mãe que parecia ter marcado a bronca exatamente da parte que ele
tinha entrado no banheiro e continuou exatamente dali. Ele não deu trela, pegou
o dinheiro que desenrolou consertando os computadores dos vizinhos idiotas e
partiu para comer alguma coisa na padaria que ficava em frente à escola, foi na
garagem, pegou sua velha bicicleta, que tinha comprado da mãe de um menino que
tinha morrido de câncer, ou coisa parecida, e sempre que ela o via na bicicleta
começava a chorar... Damian que não era um ser muito bondoso e munido de
caridade, sempre fazia questão de passar na frente da casa da mulher - eu sei
que isso não é bonito, mas esse era o seu jeito.
Chegou à padaria, comprou umas
coxinhas, um suco de goiaba com leite e se sentou na calçada pra ficar
observando os “otários” que iam e vinham munidos de um propósito e ele pensava
sempre que sentido havia em ficar cinco horas por dia preso dentro de uma sala,
ouvindo uma pessoa o ensinar coisas inúteis pra sua vida. Não, ele não está nem
aí pra o tal do vestibular, aliás ele não está nem ai pra merda nenhuma desse
sistema... O que sabe: aprendeu sozinho e não via a menor utilidade em aprender
sobre os ricos que já morreram e sobre o que eles disseram que era certo. Mas
vamos deixar a filosofia para os filósofos.
Damian estava sentado apreciando o seu almoço quando foi abordado pelo seu
professor de Matemática, o qual ele não tinha ideia do nome, do ano que se
passou.
— Damian, já começou o ano faltando aula rapaz? Como
você quer ter um futuro assim?
Damian não é de se abater com as ironias alheias e respondeu prontamente.
— Ah professor num-sei-quem, eu decidi adiantar
meu futuro... E o senhor sabe né? Um homem de negócios como eu não tem tempo
pra aprender matemática básica, mas prometo que assim que tiver um tempo vou
lá.
O professor realmente se divertia com a indiferença do Damian e saiu rindo.
Como o sol estava meio quente, Damian sentou-se numa daquelas mesas externas,
ainda de frente pra escola, quando alguns colegas seus que saíam da aula o
avistaram e já foram falar com ele. — “Damian! Pô, já
perdendo aula? Vamos se animar né velho?” Damian responde: —
“Ah, vocês sabem que primeiro dia é sempre igual, prefiro um último dia de
férias que um primeiro dia de aula, hehe”. Frederico, que é amigo de Damian
desde o fundamental, não acredita na inércia do amigo, mas mesmo assim se
diverte com o seu jeitão “nem aí”, até porque em outros ramos ele era uma boa
companhia. Frederico, falou: — “Damian, meus pais estão indo agora de tarde
pra casa do sitio, e eu vou ficar só lá cara, ai eu resolvi fazer uma festinha
só entre a gente, se é que você me entende... Você vai né?” Damian, que estava
bem entediado com aquelas férias, apesar de não querer admitir aceitou o
convite.
Quando
a noite caía, a casa de Frederico ia se enchendo das pessoas que ele
considerava “só entre a gente”, a ponto da rua fechar de tantos carros. Musica
de péssima qualidade, bebida e piscina é um atrativo de qualidade para os
brasileiros. A casa do Frederico era grande e dotada de vários quartos, e o
quintal era enorme, a piscina pequena, mas dava pro pessoal se divertir todos
espremidos. Damian chegou na casa, lá pelas oito da noite, pegou alguma coisa
pra beber e foi pra perto da churrasqueira ver se desenrolava alguma coisinha
pra comer, mas pra sua decepção não havia vida alguma na churrasqueira, então
ele foi pro quintal, se sentou na escada da cozinha e ficou observando a triste
realidade, um monte de homens se espremendo dentro de uma piscina e se
amostrando pras meninas que, enojadas,
ficavam escoradas na parede ou conversando com outro idiota qualquer que
esqueceu a sunga em casa. Damian se ria, quando Gabriela chegou próximo a ele e
achou engraçada a cara de deboche que ele fazia da situação, perguntou do que
ele estava rindo exatamente. — “Nossa, respondeu ele, estou rindo da situação
toda, quando a gente escuta festa na piscina, imagina logo aquela cena dos
filmes americanos, com um monte de garotas na piscina e um pop rock tocando no
fundo. Mas a realidade é triste”.
Os
dois ficaram se rindo da situação, e algumas horas depois estavam se pegando...
É, eu não gosto de ficar enrolando... Damian podia ter muitos defeitos, mas ele
sabia como lidar com uma mulher, o problema era que só queria se divertir e
pronto, não tinha paciência pra lidar com todas as coisas chatas de um
relacionamento, mas quase sempre chegava onde queria. Dessa vez não foi
diferente, ele subiu até o quarto do Frederico e se divertiu bastante com sua
nova “amiga”.
A
madrugada já estampava o céu quando as pessoas começaram a ir embora da casa de
Frederico. No quarto estavam Gabriela e Damian, deitados conversando besteiras,
de repente Gabriela olhou para ele e confessou que aquela tinha sido a sua
primeira vez, Damian pensou consigo: “Como se eu não tivesse notado...”, mas
guardou para si e disse estar lisonjeado, o que convenhamos, não é a coisa
certa a se dizer numa hora dessas, mas era bem melhor do que o que ele estava
pensando. Ela não gostou muito do que ouviu mas mesmo assim, ficou calada pensativa. O que Damian não sabia era que
Frederico era louco por Gabriela e antes que isso aqui vire um dramalhão vamos
aos fatos: Frederico subia as escadas para ir dormir um pouco antes da aula,
enquanto isso Damian vestia as suas roupas, e Gabriela ainda estava na cama com
cara de poucos amigos. Quando Frederico entra há um ar de silêncio por alguns
minutos, e ele pergunta a Damian. “– Que porra é essa? Você tá brincadeira? Eu
passei a noite toda atrás dessa menina, eu sou louco por ela! E você vem aqui,
no meu quarto e faz isso?” Damian com a cara de deboche que lhe é peculiar
reponde: – “E eu ia adivinhar? Ela estava sozinha e praticamente pedindo... Eu
num ia negar né?” Quando ouve a demonstração do mais puro romantismo do Damian,
Gabriela fica em pé em cima da cama e grita. – “Como é!? Você é um descarado
mesmo, seu desgraçado, imbecil!” Dizendo isso, ela se veste, e pede a Frederico
pra deixá-la em casa e Frederico, como o bom cavalheiro que é, não nega o
pedido, mas antes de sair, chega bem próximo a Damian, que agora parecia esta
meio sem graça com situação, e fala: – “Dessa vez você vacilou mesmo hein? Tudo
tem volta Damian, já esta na hora de você perceber!”. Falando isso, Frederico
pegou Gabriela pela mão e saiu no carro do pai. Damian ficou ali tentando
entender como ele tinha, em alguns minutos, magoado uma menina que mal conhecia
e o seu melhor amigo. Cansou-se de tentar entender, colocou o casaco, pegou
mais um copo de cerveja e saiu pelas ruas desertas de uma madrugada de
terça-feira. Mal sabia ele, que isso era o início do fim de tudo aquilo que ele
conhecia como vida...
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