sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Intimate 1x05


                Rodrigo se abaixa e pega o diário, tenta lembrar-se de onde conhecia aquela capa, mas antes de conseguir pensar em algo Catarina arranca-o de suas mãos e coloca dentro da bolsa rapidamente.
                – Vai parecer estranho, mas já vi um diário desses em algum lugar, só não lembro onde.
                – Ah, foi? Você deve tá confundindo com algum livro, esse diário foi... feito à mão, pela minha vó.
                – Não, tenho certeza que já vi um desses!
                – Que estranho, ela nunca me falou sobre ter feito um desse pra outra pessoa.
                – Sei... Mas me diga senhorita, que horas posso passar pra te pegar sábado? – Rodrigo diz em tom de graça e Catarina sorri aliviada por ter mudado o assunto.
                – Que gentil de sua parte, mas então senhor amigo da menina GO, ainda não sei se vou aparecer por lá. – Rodrigo dá uma risada e logo fala:
                – Ah, qualé... É sua chance de se enturmar com a galera, fazer novos amigos, se aproximar da gente e de quebra garantir autógrafos nossos, quer coisa melhor pr'uma noite de sábado?
                – É, você não tem fortes argumentos, mas fiquei balançada com o lance dos autógrafos, vai ser um prazer assinar meu nome na sua camisa, não se preocupe. – Eles sorriem e Catarina se dá conta que já está na rua de casa. – Acho que cheguei em casa, valeu pela carona, cavalheiro. A gente se vê amanhã?
                Eles se despedem e Catarina fica feliz em ver que ali poderia ter um laço de amizade começando, há tempos não conversava com alguém com quem se entrosasse com facilidade e o assunto fluísse assim. De imediato se pergunta de onde ele reconheceu o diário, já que ninguém tem acesso à biblioteca secreta. Ao chegar em casa, como ainda era cedo, nota que todos ainda estavam no trabalho. Entra no quarto e senta na cama com o diário aberto decidida a encontrar algum endereço ou vestígio de dados do suposto dono do diário, mas não encontra nada, nenhuma assinatura, nenhum telefone, nenhum endereço! Resolve voltar à casa secreta, decidida a encontrar alguma coisa que solucione esse mistério.
                Procura nas prateleiras próximas ao local em que encontrou o diário, revira vários livros, abre outras caixas, mas nada... Não encontra nada. Abre o diário novamente e com letras mais apagadas, um recorte de livro:

 ‘Tenha paciência. Tudo aquilo que você deseja, se for verdadeiro, e o mais importante: se for para ser seu, acontecerá.’
                   William Shakespeare      
“E é por essas e outras que me sinto ceticista demais quando dialogo contigo, William. Você sempre encontra um meio de me contrariar, não é mesmo? Parece até que tem um radar pros meus pessimismos amorosos, que coisa. Até confesso que acreditaria nisso em outros dias, mas não hoje.
Não vou negar que me peguei sorrindo lembrando de ontem, quando o menino novato me trouxe pra casa depois do meu pequeno acidente na aula de educação física. Pode ser bobagem, mas ele ter levado uns arranhõezinhos á sério a ponto de se preocupar em me trazer em casa me fez pensar que... Não... Calma, né? Também não vou começar a criar hipóteses por conta de uma carona pra casa.”

No verso da página um envelope colado, dentro dele um cartão de natal: “Que seja sempre assim, que eu seja sempre seu e seu sorriso sempre o meu: meu maior presente, feliz natal!”. Catarina fica ainda mais curiosa e tenta descolar o envelope pra descobrir algum endereço ou qualquer coisa do tipo, mas a única coisa que consegue ler em letras já bem apagadas é: W_ng W_y, 158.  Catarina não consegue completar a palavra, mas, convencida de que se trata de alguma rua e que tal nome lhe soa familiar, fecha o diário e volta pra casa pra procurar algo semelhante em um dos mapas de seu pai.
Vasculhou as gavetas de seu pai a procura de um mapa, em vinte minutos encontrou mais de seis ruas com os possíveis nomes, mas estava disposta a descobrir a qualquer custo de onde vinha e de quem era o tal diário. Não desistiu da busca e pensou em tentar enviar uma carta caso conseguisse descobrir o endereço completo. Decide que amanhã mesmo começará a procurar a tal rua.
~ ~
Catarina passa a tarde inteira lendo o diário, a cada página se envolve mais na história de vida ali descrita, mais uma vez relê os versos escritos no postal e, por um instante, pensa que não adiantava quantos livros, discos ou amigos possuísse, a necessidade de viver um amor de verdade seria sempre presente. Porque aceitar seguir a vida sem um amor é como estar preso à sombra da felicidade, se manter na superfície, quando se pode mergulhar no oceano (sem volta) que é entrar, marcar e ter a certeza de jamais sair da vida de alguém.
Percebe que até então passara os últimos meses focada em seus estudos, seus afazeres domésticos e desde que mudou para Belluno, há seis meses, sua vida amorosa estava totalmente esquecida. Tentava lembrar-se de algum instante em que passou por sua cabeça entrar em um relacionamento ou achar leveza no amor, mas não encontrou. O diário despertou todas as lembranças que haviam sido esquecidas desde que deixou sua vida, seus amigos e seus sentimentos em Sparke. Sentiu falta de seus amigos, de suas histórias e, de repente, se viu infeliz. Era a primeira vez, desde que havia se mudado, que dera o braço a torcer e confessou pra si mesma que não adiantava em que cidade ela estava, há quantos quilômetros de distância ela estivesse de sua realidade. A verdade e o destino sempre encontram um meio para bater em nossa porta, não importa quanto tempo se corre ou quanto a si mesmo se mude, a verdade é imutável e o amor sempre acha um caminho para continuar existindo.
Mal pregou os olhos e já era de manhã, acordou acabada e com seu orgulho ferido, mas isso não era motivo suficiente para pedir um atestado para faltar aula. Trocou-se e saiu pra escola. Ainda na rua de sua casa encontra Rodrigo e segue o caminho na companhia dele, sem muitas palavras além de bom dia, Catarina segue todo o caminho em silêncio, apenas escutando Rodrigo contar aventuras e estripulias que são comuns de acontecer nos shows da banda.
                Quando eles entram na sala ela senta no mesmo lugar de sempre, Mariana ainda não chegou e Pedro já colocou sua bolsa na cadeira ao lado da de Letícia, Rodrigo senta na cadeira da frente da de Catarina, mas percebe que ela está calada e não puxa papo. Como o professor ainda não tinha chegado Catarina vai para biblioteca e procura na internet todos os nomes relacionados ao que ela encontrou no envelope, mas não acha nada próximo de Belluno. Quando está quase desistindo de procurar, Marcelo senta na cadeira do computador ao lado e pergunta se ela quer ajuda, embora se assuste e, inicialmente, não queira falar sobre isso com mais ninguém, acaba cedendo. Marcelo fala sobre uma rua próxima à fronteira de Belluno, Catarina imediatamente lhe pede o nome da rua e eles voltam para a sala. Durante a aula Catarina escreve um bilhete explicando que encontrou um diário pessoal e quer muito conhecer o dono para poder entregar-lhe, por medo de ser descoberta coloca o endereço da casa da biblioteca como remetente, e pede que seja respondida assim que possível. Na saída da escola passa no Correios e deixa a carta, mesmo sem muitas esperanças de receber uma resposta, mas como Belluno não era uma cidade muito grande o prazo de resposta não ia exceder uma semana, prometeu pra si mesma que se em uma semana não recebesse alguma resposta, desistiria de procurar qualquer coisa sobre o diário.
                                                                                          ~
                A sexta feira chegou e todos os comentários na aula se resumiam à festa dos meninos, até apostas sobre quem ficaria com mais garotas, quem beberia mais, e outras coisas de adolescentes, mas Catarina só conseguia pensar na carta que ainda não havia chegado, se ela havia sido recebida e imaginou 'n' hipóteses a respeito seu destinatário. A aula passa se arrastando e quando finalmente toca Catarina sai apressada, mas Rodrigo a acompanha e a deixa na esquina de sua casa, quando ele dobra a rua, Catarina continua a caminhar em direção a casa da biblioteca ainda preocupada e fica frustrada ao ver que ainda não havia chegado carta alguma. Volta pra casa e passa a tarde inteira estudando para se preparar para semana de provas que viria. No final da tarde decide voltar na casa para conferir se havia chegado alguma coisa, abre a caixa de correios já sem esperanças, mas fica espantada quando vê que tem um pacote ali dentro. Pega o pacote e entra correndo na casa, senta na escada atônita e curiosa para saber o que havia ali dentro, quando abre...

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